quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Tratado da Castidade - Parte V - Santo Afonso Maria de Ligório



§ V. DA VIRGINDADE
São Cipriano (De disc. et hab. virg.) denomina a multidão de virgens que se
consagram ao amor de seu Divino Esposo, de "a mais nobre porção da Igreja de Cristo".
Vários outros Santos Padres, como Santo Efrém, Santo Ambrósio, Santo Agostinho,
São Jerônimo, São Crisóstomo, escreveram livros inteiros em louvor da virgindade.
Não é minha intenção expor aqui todos os méritos e vantagens que adquirem as
pessoas que consagraram a Deus sua virgindade; disso tratarei extensamente no capítulo
IV da III parte, que trata do voto de castidade [que reproduzimos logo abaixo]. Aqui
farei seguir, simplesmente, uma instrução para os que levam uma vida virginal sem
terem emitido o voto de castidade.
As almas virgens são extraordinariamente belas aos olhos de Deus: "Serão como
os Anjos de Deus no Céu" (Mat 22, 30). Barônio conta que na morte de uma virgem,
chamada Geórgia, uma multidão de pombos adejavam ao redor da casa e, quando seu
cadáver foi transportado à igreja, pousaram no teto, exatamente em cima do lugar onde
se achava o caixão, e daí não se retiraram até ser sepultada a piedosa virgem (An. 480).
Essas pombas certamente eram Anjos, que queriam prestar as últimas honras àquele
corpo virginal.
As almas virginais, que renunciaram ao casamento para se dedicarem
exclusivamente ao amor de Jesus Cristo, tornam-se esposas do Filho de Deus. Nos
Santos Evangelhos, Jesus Cristo é chamado Pai, Mestre, Pastor das almas; referindo-se
às virgens, porém, dá-Lhe o nome de Esposo: "Elas saíram a receber o Esposo e a
Esposa" (Mat 25, 1). Por isso, tinha razão Santa Inês, respondendo, segundo Santo
Ambrósio, aos que lhe ofereciam a mão do filho do prefeito de Roma: "Ofereceis-me
um esposo? Já encontrei um muito melhor" (De virg., 1. 1). Semelhante resposta deu
Santa domitila, sobrinha do imperador Domiciano, aos que queriam persuadi-la a casarse
com Aureliano: "Dizei-me: a quem deveria escolher por esposo uma jovem pedida
em casamento por um monarca e por um camponês? Para casar-me com Aureliano, teria
de renunciar ao Rei do Céu. Ora, isso seria uma loucura inominável, que nunca
praticarei". E, firme nessa resolução, deixou-se queimar viva, para poder permanecer
fiel a Jesus Cristo, a Quem consagrara sua virgindade.
Quem poderá imaginar a glória que Deus reserva a Suas castas esposas lá no
Céu? Os teólogos são de opinião que no Céu existe uma glória especial reservada às
virgens, uma coroa ou alegria particular, de que estão privados os outros Santos.
Mas, dir-me-á uma ou outra jovem: 'Ora, casando-me também poderei santificarme'.
Não receberás a resposta da minha boca, mas da de São Paulo, que te dirá também
a diferença que existe entre as virgens e as casadas: "A mulher virgem pensa nas coisas
que são do Senhor, para que seja santa no corpo e no espírito. Mas, a que é casada,
pensa nas coisas que são do mundo, em como agradar ao marido. Em verdade, digo isso
para vosso proveito... para vos exortar ao que vos convém e vos facilita a orar ao Senhor
sem embaraço" (I Cor 7, 34).


Deve-se, pois, notar que as casadas, sem dúvida alguma, podem ser santas
segundo o espírito, ao passo que as virgens, que amam a Deus, o são de corpo e espírito.
Tome-se também em consideração estas palavras: "O que facilita servir a Deus sem
impedimento". Quantos impedimentos não encontram as casadas na sua tendência à
santidade! E esses obstáculos são tanto maiores, quanto mais elevada a sua condição
[social].
Para nos fazermos santos temos de empregar os meios e, antes de tudo, nos
consagrar à oração mental, receber amiúde os Santos Sacramentos, e pensar sem
interrupção em Deus. Ora, quando uma senhora casada achará tempo para cuidar
naquilo que é do Senhor? Ela se ocupará com as coisas deste mundo, diz São Paulo,
cuidará em agradar a seu marido, olhará pelas necessidades de sua família, pelo seu
sustento e vestes, vigiará a educação de seus filhos, atenderá aos parentes e amigos,
pensará continuamente nos seus afazeres; seu coração ficará assim dividido entre seus
filhos, seu marido e Deus. Como encontrar tempo para se entregar a longas orações
mentais, para receber muitas vezes a Comunhão, se nem lhe resta tempo para cuidar de
todas as obrigações de sua casa e estado? O marido quer ser atendido, os filhos gritam e
choram, querendo mil coisas diversas. Como meditar entre tantos cuidados e
perturbações? Muitas mães de família nem mesmo aos domingos podem ir à igreja. É
verdade, ela pode conservar a sua boa vontade, mas sempre lhe será custoso cuidar,
como convém, do que é do Senhor. Não há dúvida de que pode adquirir grandes
merecimentos em razão de tais provações, entregando-se à Vontade de Deus que, em
tais condições, não que mais do que um sacrifício perene de resignação e paciência;
mas, no meio de tantas distrações e tribulações, é quase impossível, é mesmo heroísmo,
praticar a virtude da paciência e conformidade, sem o exercício da oração e a recepção
dos Sacramentos... Mas, prouvera a Deus que as senhoras casadas nada mais tivessem a
deplorar que a falta de tempo necessário para seus exercícios de piedade.
A m´s conduta do marido, os desgostos causados pelos filhos, os negócios da
casa, as molestas atenções que se devem à sogra e aos cunhados, as suspeitas, as
inquietações de consciência quanto à vida conjugal e educação dos filhos, tudo isso
origina um mar de tribulações, no qual passam sua vida entre suspiros e lágrimas. E
felizes se conseguirem salvar sua alma e alcançarem de Deus a graça de não deixarem o
inferno desta vida para se precipitarem no inferno eterno! Esta é a bela sorte das jovens
que se consagram ao mundo... [grifo do original]
Mas, entre tantas mulheres casadas, não haverá uma só que se santifique? Sim,
existem também Santas casadas. Porém, quais são estas? As que se santificam pelo
martírio, que sofrem tudo por amor de Deus, com uma paciência que nada abala. Mas,
quantas se elevarão a tal perfeição? Ah! Mui poucas. E se encontrares uma tal, verás
que deplora amargamente ter escolhido o partido do mundo, tendo podido, com tanta
facilidade, consagrar-se a Jesus Cristo.
Verdadeiramente felizes são aquelas virgens que se consagram por inteiro e
exclusivamente ao seu Divino Salvador. Estas estão livres dos perigos em que se achão
as casadas. Seu coração está desembaraçado do apego aos filhos e marido, aos bens
transitórios, ao luxo vão ou a outras coisas do mundo.
E, quando as mulheres casadas se vêem obrigadas a empregar muitos cuidados e
grandes somas com seu traje, para aparecer ao mundo à altura de sua posição e agradar
a seu marido, a virgem que se consagrou a Jesus Cristo se contenta com um vestido
simples e desataviado, pois, do contrário, daria escândalo. Todos os seus pensamentos e
cuidados tendem a agradar a Jesus, a quem dedicou seu corpo, sua alma, seu amor todo.
Assim, possui ela também mais liberdade de espírito para pensar em Deus e mais tempo
para se entregar à oração e receber os Sacramentos.
Se não te sentes chamada, alma cristã, ao estado conjugal, nem ao religioso, mas
desejas fazer-te santa no mundo, como verdadeira esposa de Jesus Cristo, toma a peito
os seguintes conselhos: Para a santificação, não é suficiente que uma virgem traga
ilibada a sua pureza e use o nome de esposa de Jesus Cristo; é preciso também praticar
as virtudes de uma esposa de Jesus. No Evangelho é o reino dos Céus comparado a
umas virgens. Mas que virgens? Às virgens prudentes e não às loucas. Aquelas foram
introduzidas na sala das núpcias; a estas foi a porta fechada e ouviram do Esposo: Não
deixais de ser virgens, mas eu não vos reconheço por esposas minhas. As verdadeiras
esposas de Jesus seguem o Esposo para onde quer que Ele vá (Apoc 14, 4). que quer
dizer seguir o Esposo? Santo Agostinho explica que é prender-se a Ele (De s. virg., c.
7). Depois de Lhe teres sacrificado teu corpo, deves ainda consagrar-Lhe todo o teu
coração, de tal forma que só te ocupes em amá-lO. Para isso, deves empregar os meios
para pertencer exclusivamente a Ele.
O primeiro é a oração mental, a que te deves dedicar com todo o zelo. Não
julgues que, para isso, é necessário se recolher a um convento ou passar todo o dia na
igreja. Não há dúvida que em uma casa de família há barulho e perturbações de pessoas
que entram e saem; mas quem tem boa vontade encontra sempre jeito e tempo para
fazer suas orações; por exemplo, de manhã, antes de se levantarem as pessoas da casa,
ou de noite, depois de já se terem recolhido. Também não se requer que se esteja sempre
de joelhos; podem-se recitar as orações durante o trabalho ou caminhando; basta elevar
o pensamento a Deus, pensar na Paixão de Cristo ou meditar sobre qualquer outro
assunto devoto.
O segundo meio é a recepção assídua dos santos sacramentos da Penitência e
Eucaristia. (...) Quanto à Comunhão, não é muita coisa se for recebida só por
obediência; deve-se ter deselo delA, e pedi-lA. Esse Divino Pão quer ser desejado e que
se tenha fome dEle. A Comunhão é que faz com que as esposas de Jesus permaneçam
fiéis a seu Divino Esposo, já que a Ela devem em especial a conservação de sua pureza.
Este Divino Sacramento conserva na alma toda espécie de virtudes, sendo, porém, seu
efeito principal, conservar ilibado o lírio da virgindade, dando-Lhe o profeta, por isso, o
nome de "nutrimento dos escolhidos e vinho que gera virgens" (Zac 9, 17).
O terceiro meio é o recolhimento e a vigilância. O Divino Esposo compara Sua
esposa com um lírio entre os espinhos (Cânt 2, 2). Uma donzela que quer viver na
sociedade, entre divertimentos e distrações mundanas, não poderá permanecer fiel a
Jesus Cristo. Deve, pelo contrário, estar sempre circundada dos espinhos da abstinência
e mortificações, e guardar, em especial no trato com homens, a maior reserva, e rigorosa
modéstia dos olhos e palavras e, mesmo, se necessário, mostrar-se austera e descortês.
Os espinhos são o que protegem os lírios, isto é, as virgens; sem eles, perder-seão
em pouco tempo. O Senhor compara a beleza de Sua esposa com a da pomba (Cânt
1, 9). Por quê? Porque a pomba, por instinto natural, evita a companhia dos outros
pássaros. Assim, uma virgem é bela aos olhos de Jesus, se leva uma vida retirada e se se
esconde, quanto possível, aos olhos do mundo. São Jerônimo diz (Ep. ad Eust.) que o
Esposo das almas é cioso. Desgosta-se muito, por isso, de uma virgem que, depois de se
haver consagrado ao Seu amor, gosta de mostrar-se e procura agradar aos homens.
Pessoas verdadeiramente virtuosas preferem desfigurar-se a si mesmas a tornarse
objeto de amor criminoso. Se, por desgraça, acontecer tornar-se uma virgem vítima
de uma violência qualquer, sem culpa sua, não deve inquietar-se com isso, já que sua
pureza não fica alterada. Foi o que Santa Lúcia respondeu ao tirano que a ameaçava de
entregá-la ao prostíbulo: "Se eu for desonrada contra minha vontade, receberei uma
coroa dupla". Com razão se diz: Não o sentimento, mas o consentimento fere a alma.
Além disso, podemos ficar convencidos que uma virgem modesta e reservada saberá
também fazer-se respeitar.
O quarto meio é a mortificação dos sentidos. Uma virgem que quer conserva-se
pura, diz São Basílio, deve ser pura na língua, falando sempre com decoro e, se for
necessário tratar com homens, só dizer o indispensável; pura nos ouvidos, evitando
ouvir conversas mundanas; pura nos olhos, conservando-os fechados ou, ao menos,
baixos, quando na companhia de homens; pura no tato, usando do máximo cuidado
quanto aos outros e quanto a si mesma; pura principalmente no espírito, esforçando-se
por resistir aos maus pensamentos, recorrendo a Jesus e Maria.
Para conseguir isso, é preciso que ela mortifique seu corpo com jejuns e outras
penitências. Jesus Cristo é um 'Esposo de Sangue' (Ex 4, 26), que desposou nossa alma
na ara da Cruz e, por amor dela, derramou até a última gota de Sangue. Por esse motivo,
Suas esposas suportam angústias, doenças, dores, maus tratos e injúrias, não só com
paciência, mas até com alegria. Assim deve-se entender o texto da Escritura, que diz:
"As Virgens seguem o Cordeiro para onde quer que Ele vá" (Apoc 14, 4). Elas seguem
jubilosas e cantando a Jesus, seu Divino Esposo, mesmo no meio dos opróbrios e penas,
a exemplo de milhares de virgens que foram ao encontro da morte e das torturas, cheias
de alegria.
Finalmente, deves recomendar-te instantemente a Maria, a Rainha das Virgens,
se quiseres perseverar no teu estado de virgindade perpétua. Ela é que prepara e conclui
a união das almas com Seu Divino Filho; Ela que alcança para essas almas escolhidas a
graça da preseverança, pois, sem a Sua assistÊncia, todas tornar-se-iam infiéis.
Vós, que ledes estas linhas, - dirijo-me àquelas que se sentem chamadas pelo
Divino Esposo a renunciar ao Matrimônio - vós, que quereis pertencer a Jesus Cristo,
não vos obrigueis desde logo por um voto, nem façais, logo no começo, o voto de
castidade perpétua; fazei esse voto quando Deus vo-lo inspirar e o confessor o permitir.
Aconselho-vos, porém, que agradeçais a Jesus Cristo, vos ter chamado a Seu especial
amor, e vos ofereçais ao Senhor como coisa que Lhe é consagrada e própria para todo o
sempre. E, por isso, dizei-Lhe assim: Ó meu Jesus, meu Deus e Salvador, que por mim
morrestes, perdoai-me se também eu ouso chamar-vos meu Esposo. Ouso porque vejo
que Vos agrada chamar-me a essa honra. Essa graça é tão grande, que não Vo-la posso
agradecer suficientemente. Eu merecia estar agora ardendo no inferno, porém, em vez
de me castigar, escolheis-me para esposa Vossa. Pois bem, meu Divino Salvador, eu
renuncio ao mundo, eu renuncio a tudo por amor de Vós e a Vós me entrego inteira e
irrevogavelmente. De hoje em diante sereis meu único bem, meu único amor. Vejo que
quereis possuir meu coração inteiro: ei-lo, entrego-o sem restrição. Aceitai meu
sacrifício e não me repulseis como eu mereceria. Esquecei-Vos de todas as ofensas que
Vos tenho feito até hoje: detesto-as de todo o coração. Ah! Tivesse eu morrido antes de
Vos haver ofendido! Perdoai-me em Vosso amor, e concedei-me a graça de Vos
permanecer fiel e nunca mais Vos abandonar. Vós, ó meu Esposo, Vos entregastes todo
a mim; eis-me aqui, eu também quero entregar-me toda a Vós. Ó Maria, minha Rainha e
minha Mãe, prendei meu coração ao Coração de Jesus Cristo; ligai-me tão fortemente a
Ele, que nunca mais possa desprender-me de Vosso Divino Filho.


Fonte: Tratado da Castidade, Santo Afonso Maria de Ligório

domingo, 28 de outubro de 2012

A necessidade de ser viril - León Bloy


 


“É muito fácil castrar as almas só lhes ensinando o preceito de amarmos os nossos irmãos, com prejuízo de todos os demais preceitos que assim lhe seriam ocultados. Obtém-se por essa via uma religião ociosa e visguenta, mais temível nos seus efeitos que o próprio niilismo. Ora, o Evangelho contém ameaças e conclusões terríveis. Jesus, em vinte lugares, lança o anátema não sobre coisas, mas sim sobre homens que designa com terrível precisão. Nem por isso deixa de sacrificar sua vida por todos, mas depois de nos ter deixado a prática de falar ‘em cima dos telhados’, como ele próprio falou. Ele é o modelo único e aos cristãos outra coisa não compete fazer que imitar seus exemplos.”
“Que pensariam vocês da caridade de um homem que deixasse envenenar os seus irmãos com receito de, advertindo-os, arruinar o prestígio do envenenador? Eu sustento que em semelhante hipótese a caridade consiste em protestar e que o amor autêntico deve ser implacável. Isto porém supõe uma virilidade, hoje em dia tão ausente que já não pode proferir-se o seu nome sem se atentar contra o pudor… Não possuo autoridade nem para julgar nem para punir – diz-se. Deverei inferir deste baixo sofisma, cuja perfídia é bem minha conhecida, que não possuo sequer autoridade para observar, e que é mesmo interdito erguer o braço para esse incendiário que, cheio de confiança na minha inércia fraterna, vai sob as minhas vistas detonar a mina que destruirá uma cidade inteira? Se os cristãos não houvessem dado tantos ouvidos às lições dos seus inimigos mortais, saberiam nada haver mais justo que a misericórdia, pois nada é mais misericordioso que a justiça, e os seus raciocínios ajustar-se-iam a estas noções elementares.”
- León Bloy em “O Desesperado”
Fonte: Adversus Haereses

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Tratado da Castidade - Santo Afonso Maria de Ligório - Parte IV



§ IV. DA GUARDA DO CORAÇÃO

A modéstia dos olhos pouco nos servirá se não vigiarmos sobre o nosso coração.
"Aplica-te com todo o cuidado possível à guarda do teu coração, diz o Sábio (Prov 4,
27), porque é dele que procede a vida". É aqui o lugar apropiado para se dizer algumas
palavras sobre as amizades e, primeiramente, sobre as santas, depois sobre as puramente
naturais e, afinal, sobre as perigosas.

1) Descrevendo São Paulo a corrupção moral dos gentios, enumerava entre seus
vícios a falta de sentimento e de susceptibilidade para a amizade. A amizade, segundo
São Tomás, é mesmo uma virtude. A perfeição não proíbe se entretenham amizades, diz
São Francisco de Sales; exige somente que sejam santas e edificantes, a saber, só devem
ser mantidas aquelas uniões espirituais por meio das quais duas, três ou mais pessoas,
comunicam entre si seus exercícios de devoção, seus desejos piedosos e sentimentos
nobres, tornando-se como que um só coração e uma só alma para a glória de Deus e o
bem espiritual próprio e alheio. Com toda a razão podem tais almas exclamar: "Vede
quão bom e suave é habitarem os irmãos em união" (Sl 132, 1). São Francisco diz mais
que, em tal caso, o suave bálsamo da caridade destila de coração em coração por meio
dessas mútuas comunicações, e bem pode-se dizer que Deus lança Sua benção sobre tais
amizades, por toda a eternidade (Fil., III, c. 19).
Tais amizades são recomendadas pela Escritura mesma, em termos eloqüentes:
"Nada se pode comparar com o valor de um amigo fiel, e o valor do ouro e da prata não
iguala a bondade de sua fidelidade" (Ecli 6, 16). "Um amigo fiel é um remédio para a
vida e a mortalidade, e os que temem o Senhor encontram um tal" (Idem).
Mas como podeis aconselhar as amizades particulares, dirá alguém, quando elas
são tão rigorosamente condenadas por todos os ascetas? Respondo: As amizades
particulares são proibidas unicamente nos claustros e com toda a razão, pois é
imperiosamente necessário que todos os religiosos se amem mutuamente com amor
fraterno, para que haja uma vida comum claustral. Ora, num claustro, as amizades
particulares podem facilmente ocasionar perturbações dessa mútua caridade, dando
ocasião a invejas, suspeitas e outras misérias humanas. São Basílio não hesitou dizer
que as amizades particulares em um convento são uma sementeira perpétua de invejas,
de desconfianças e inimizades. O mesmo acontece nas famílias em que o pai ou a mãe
tem mais carinhos para um filho que para os outros. Os filhos de Jacó odiavam seu
irmão José, porque seu pai lhe dedicava um amor especial.
Não há, além disso, nenhum motivo de se alimentar tais amizades num estado
religioso, pois, num convento, onde reinam a disciplina e a ordem, todos os membros
tendem ao mesmo fim, à perfeição, e não é necessário travar amizades particulares para
animar-se mutuamente ao serviço de Deus e ao trabalho do aperfeiçoamento próprio.
Os que, vivendo no mundo, desejam dedicar-se à prática da virtude verdadeira e
sólida, precisam, pelo contrário, de se unir aos outros por uma amizade santa e
edificante, para poderem, por meio dela, se animar, se auxiliar e se estimular ao bem.
Há no mundo poucas pessoas que tendem à perfeição e muitas que não possuem o
espírito de Deus e, por isso, é preciso que os bons, quanto possível, evitem os que
podem impedir seu adiantamento espiritual e travem amizade com os que os podem
auxiliar na prática do bem.

2) Quanto às amizades puramente naturais, deve-se dizer que elas têm seu
fundamento na nossa natureza, que nos compele a amar nossos pais, nossos benfeitores
e todos aqueles em quem vemos belas qualidades e com quem simpatizamos. Esta
espécie de amizade é o laço da família e da sociedade, mas facilmente degenera em
amizades falsas; por exemplo, se os pais, por um carinho demasiado, toleram as faltas
de seus filhos, ou se um amigo ofende a Deus para agradar a seu amigo, etc. As
amizades naturais só são agradáveis a Deus se as santificarmos por meio da boa
intenção; por exemplo, amando a nossos pais e amigos por amor de Deus.

3) Por amizades perigosas entendem-se, em particular, as sensuais, isto é,
aquelas que se baseiam sobre uma complacência sensual, sobre a fruição comum de
prazeres dos sentidos, sobre certas qualidades fúteis e vãs de espírito e coração. Essas
amizades são já por si perigosas, mesmo que, no começo, nada tenham de
inconveniente, e devemos guardar nosso coração desembaraçado delas.

a) "Quem não evita relações perigosas, cai facilmente no abismo", diz Santo
Agostinho (Serm. 293). O triste exemplo de Salomão bastaria para nos encher de terror.
Depois de ter sido amado tanto por Deus, servindo ao Espírito Santo de mão para
escrever, travou relações com mulheres pagãs, já na sua velhice, e caiu tão
profundamente que chegou a sacrificar aos deuses. Isso, porém, não nos deve estranhar,
pois, será para admirar que alguém se queime, permanecendo no meio das chamas? -
pergunta São Cipriano (De sing. cler.).
Mas em nossas conversas, graças a Deus, não ocorre nada de mal, dirá alguém.
Respondo: Todas as amizades que têm sua origem em afeições meramente materiais
são, pelo menos, um grande impedimento à perfeição, ainda que não dessem ocasião a
outras coisas. Elas, no mínimo, fazem-nos perder o espírito de oração e recolhimento
interior; a alma que está presa por uma afeição natural poderá achar-se corporalmente
na igreja, mas seu espírito estará se entretendo com o objeto de seu amor; perderá o
amor aos Santos Sacramentos; não será mais sincera para com seu confessor, temendo
que ele a obrigue a romper com essa cadeia e, envergonhando-se de lhe descobrir sua
afeição, não lhe dirá a causa de sua tibieza, e assim se agrava, de dia para dia, seu estado
lastimoso. Ao ouvir que fala mal da pessoa amada, se enfurece, defende-a
calorosamente; descuida-se da obediência, pois quando o confessor a exorta a renunciar
a tal amizade, procura mil desculpas para não ter de obedecer.
Não é só grande a perda espiritual que se sofre com essas amizades baseadas
sobre certas qualidades externas duma pessoa, mas, principalmente se for doutro sexo, é
também enorme o perigo que se corre de se se perder eternamente. No começo tais
amizades parecem indiferentes, mas tornam-se pouco a pouco pecaminosas e, enfim,
arrastam a alma ao pecado mortal. "São como o fogo e a palha, e o demônio não cessa
de assoprar até irromper o incêndio", diz São Jerônimo.
Pessoas de diferentes sexos abrasam-se por causa da muita familiaridade, com a
mesma facilidade com que a palha atingida pelo fogo, e, em certo sentido, até com mais
facilidade, porque o demônio emprega tudo quanto é apto para atiçar o fogo. Santa
Teresa viu-se um dia transportada ao inferno, onde Deus lhe mostrou o lugar que lhe
preparara, se não rompesse com um apego puramente natural a um seu parente.

b) Se sentires em teu coração, alma cristã, uma tal afeição para com alguém, não
há outro remédio para te libertares dela, senão cortá-la resolutamente de uma vez para
sempre, pois, se quiseres renunciá-la pouco a pouco, crê-me, nunca chegarás a desfazerte
dela. Essas cadeias são dificílimas de romper, e só o conseguirá quem as quebrar
violentamente, duma só vez. E não venhas com a desculpa de que, até agora, nada
ocorreu de inconveniente, pois deves saber que o demônio não começa com o pior, mas
só pouco a pouco leva a alma imprudente às bordas do precipício e, então, com um leve
empurrão, precipita-as no abismo.
É uma máxima aceita por todos os mestres da vida espiritual de que, neste ponto,
não há outro remédio senão fugir e afastar-se da ocasião. São Filipe Néri costumava
dizer que, nesse combate, só os covardes saem vencedores, isto é, os que fogem da
ocasião. Podemos resistir aos outros vícios ficando na ocasião, diz São Tomás (De mod.
conf., c. 14), fazendo violência contra nós mesmos; mas o vício contrário à pureza,
porém, só o poderemos vencer fugindo da ocasião e renunciando às afeições perigosas.
Se sentires, porém, teu coração livre e desembaraçado de tais afeições, toma
todo o cuidado possível para não te emaranhares em laço algum, como já se tem dado a
muitos em razão de sua negligência. Eis o conselho que te dá São Jerônimo (Ep. ad
Eust.): "Se, no trato com alguém, notares que alguma afeição desregrada se quer
apoderar de teu coração, apressa-te a sufocá-la antes que se torne um gigante. Enquanto
o leão é ainda pequeno, pode ser facilmente trucidado; uma vez crescido, torna-se-á mui
difícil e humanente impossível".
Coisa verdadeiramente lamentável e vergonhosa seria se permitisses que
fizessem, em tua presença, gracejos indecentes. Não julgues que não pecas calando-te e
simplesmente ouvindo tais gracejos; se não evitares o mais depressa possível a
companhia de um homem tão insolente, já cooperaste com o seu pecado e te fizeste réu
dele. Se receberes de alguém uma carta com palavras amorosas, rasga-a imediatamente
ou lança-a ao fogo e não lhe dês resposta. Se, por motivo grave, tiveres de responder,
faze-o então em poucas e sérias palavras, e não dês a entender que notaste as tais
palavras e muito menos que achaste nelas qualquer prazer.

c) Não repliques também que não há perigo, porque a pessoa de que se trata é
piedosa. São Tomás de Aquino diz (De mod. conf., c. 14): "Quanto mais santas são as
pessoas pelas quais sentimos afeição particular, tanto mais devemos nos acautelar,
porque o alto apreço que fazemos de sua virtude mais nos estimula ainda a amá-las". O
padre Sertório Caputo, da Companhia de Jesus, diz: "O demônio, a princípio, nos
inspira amor à virtude daquela pessoa, depois o amor à própria pessoa e, finalmente, nos
lança na perdição". O Doutor Angélico faz notar que o demônio sabe perfeitamente
esconder um tal perigo: no começo não dispara seta alguma que pareça envenenada,
mas só tais que excitem a afeição, ocasionando leves feridas do coração; em seguida,
quando o amor já está aceso, essas pessoas já não se tratam mais como anjos, mas como
homens de carne e sangue: trocam repetidos olhares e palavras amorosas, desejam estar
muitas vezes a sós, juntas e, por fim, a piedade espiritual degenera em amor carnal.

d) São Boaventura indica cinco sinais dos quais se pode deduzir se a afeição que
a alguém nos prende é impura. Primeiro: se se entretêm conversas inúteis; e inúteis são
todas as que levam muito tempo. Segundo: se ocorrem olhares e louvores mútuos.
Terceiro: se se desculpam as faltas reciprocamente [evitando correções para não
desagradar]. Quarto: se aparecem pequenos ciúmes. Quinto: se a separação causa certa
inquietação. Eu ajunto ainda: Se se sente grande prazer e gosto nas maneiras ou
gentileza natural da pessoa amada, se se deseja que a afeição seja correspondida, e se se
não gosta de que outros observem, ouçam ou falem disso.

e) Mas, mesmo as pessoas que pretendem contrair matrimônio, estarão obrigadas
a sufocar a inclinação ou simpatia recíproca, suposto mesmo que seja honesta? me
perguntará alguém. Se esses futuros esposos estiverem animados de tais sentimentos,
que estejam prontos a empregar todos os cuidados para tornar remota a ocasião próxima
do pecado, e resolvidos a nunca ofender a Deus por causa de tal afeição, não precisarão
romper com ela. A experiência, porêm, ensina que os mais nobres sentimentos
degeneram facilmente em paixão.
Por esse motivo os teólogos exigem muita cautela com essas pessoas. Sabendo o
quanto o coração humano é inclinado ao pecado e quão fraco quando dominado por uma
paixão, só permitem tais relacionamentos entre os jovens quando estão em idade e têm
vontade séria de se casar; além disso, que não sejam travadas sem o consentimento dos
pais, que não se prolonguem por muito tempo e só se namorem quando estiver próximo
o casamento; também lhes interditam a conversa a sós, longe das vistas dos pais, grande
familiaridade, e tudo o que possa manchar a pureza da alma, seja por pensamentos,
olhares, palavras ou gestos.
Do filho de Tobias podemos aprender como os jovens devem se preparar para o
casamento. Na cidade de Ragés, na Média, vivia uma piedosa donzela, de nome Sara,
filha de Raguel. Estava profundamente aflita porque sete rapazes, que a haviam
sucessivamente desposado, haviam sido mortos pelo demônio da impureza, Asmodeu,
na primeira noite depois das núpcias. Ora, o anjo Rafael, que acompanhara o jovem
Tobias em sua viagem a Ragés, aconselhou-o a pedir Sara em casamento. Ele, porém, a
par do ocorrido com os outros homens, temia expor-se ao mesmo perigo. O Anjo,
porém, tranquilizou-o, dizendo: "Ouve-me... o de mônio só tem poder sobre aqueles que
abraçam o estado conjugal excluindo a Deus de seus pensamentos, para satisfazerem
unicamente a sua concupiscência, como o cavalo e a mula, que não têm entendimento.
Tu, porém, quando receberes a Sara, entra com ela no teu quarto por três dias e três
noites, guardando continência, e não te entregues a outra coisa que à oração, e então a
receberás em matrimônio no temor do Senhor, levado mais pelo desejo de ter filhos que
pela concupiscência, para que sejas abençoado e teus filhos sirvam e glorifiquem a
Deus; então nada terás a temer do demônio". O jovem Tobias seguiu esse conselho, e
seu casamento foi muito abençoado por Deus.
Notemos igualmente as quatro exortações dadas a Sara por seus pais, ao se
despedirem dela: Primeiro, honra a teu sogro; segundo, ama a teu marido; terceiro,
cuida em governar bem tua casa; quarto, porta-te em tudo irrepreensivelmente. Estes
avisos devem servir de norma a todos os jovens que pretendem contrair matrimônio.

f) O que dissemos até aqui se refere ao trato com pessoas de diferente sexo. O
amor desregrado, todavia, pode existir também existir entre pessoas do mesmo sexo,
principalmente se são ainda moços e existe entre eles uma familiaridade por demais
íntima. A este respeito, São Basílio diz o seguinte (Serm. de abd. rev.): "Vós que sois
ainda jovens, evitai a companhia de vossos iguais, pois, por meio dessas amizades, o
demônio já arrastou a muitos para o inferno". "Alguns começaram com uma afeição
aparentemente santa, continua ele, mas pouco a pouco precipitou-os o demônio num
lodaçal de vícios os mais abomináveis". Santa Ângela de Foligno se exprime de modo
semelhante (Vit., c. 64): "Ainda que seja o amor a fonte de todo o bem, não deixa de ser
igualmente a fonte de todo o mal. Não falo do amor impuro, que deve ser evitado em
todo o caso, mas da inclinação, em si inocente, que facilmente pode degenerar em amor
desordenado. O trato mui assíduo com outro, com protestos de afeição, tem por
consequência tornar nocivo o amor, visto que ele prende estreitamente um coração ao
outro, obscurecendo a afeição crescente cada vez mais a razão. Em pouco tempo só
quererá um o que o outro quer, e então não terá mais coragem de resistir ao outro
quando for convidado ao mal, e, assim, se perderão ambos".
Por isso, os que dedicam à educação da mocidade estão gravemente obrigados a
ter os olhos abertos nesse ponto, e não precisam ter escrúpulos, suspeitando mal com
algum motivo. Se noterem qualquer apego ou familiaridade entre dois jovens,
intervenham imediatamente e conservem-nos rigorosamente separados um do outro.

g) Aqui na terra cada um de nós anda por caminhos escabrosos e em trevas, e se,
além disso, ainda um anjo mau, isto é, um mau companheiro, que é pior que um
demônio, nos persegue e impele à perdição, como poderemos escapar ilesos? Já Platão
dizia: "Tomarás os mesmos modos daqueles com quem convives". Segundo São João
Crisóstomo, para se certificar dos hábitos de alguém, basta saber com quem ele anda, já
que os amigos ou são ou fazem-se semelhantes uns aos outros. E isso por duas causas:
primeiro, porque um se esforça por imitar o outro para lhe ser agradável; segundo,
porque o homem, como nota Sêneca, é inclinado a fazer o que vê os outros fazerem.
Dos israelitas lemos: "Eles se mesclaram com os gentios e aprenderam suas obras" (Sl
105, 35). Devemos, portanto, não só fugir do comércio com os impuros, diz o Sábio,
mas também nos conservarmos longe de seus caminhos: "Meu filho, não andes com eles
e não ponhas o pé em seus caminhos" (Prov 1, 15). Devemos evitar todo o trato com
eles, suas conversas ou presentes, com os quais procuram nos enredar. "Meu filho, se os
pecadores te atraírem com seus afagos, não condescendas com eles" (Prov 1, 10).
"Cairá, talvez, uma ave, no laço armado na terra, sem a isca?" (Am 3, 5). O demônio
serve-se dos maus amigos como de iscas, segundo Jeremias, para prender as almas em
suas redes de pecado. "Meus inimigos, sem motivo, prenderam-me como se prende uma
ave" (Jer 3, 52). Ele diz 'sem motivo' porque, pergunto-se a um tal sedutor por que
aliciou sua pobre vítima ao pecado, responderá: não havia motivo; eu só queria que ela
fizesse como eu. É exatamente essa a astúcia do demônio, diz Santo Efrém: "Capturada
uma alma em sua rede, serve-se dela como de uma armadilha para prender a outra" (De
rect. viv. rat., c. 22).
Fujamos, pois, a toda familiaridade com tais escorpiões infernais, como se foge
da peste. Digo: fujamos à familiaridade, isto é, não travemos amizade com homens
viciosos, evitando tomar parte em sua mesa, banquetes ou outros convívios com eles. É
impossível evitar todo o comércio com eles, porque então teríamos de sair deste mundo,
segundo o Apóstolo (I Cor 5, 10); contudo, é bem possível evitar um trato mais familiar
com eles, seguindo o conselho do mesmo Apóstolo: "Eu vos escrevi que não tenhais
comunicação com eles... com um tal não deveis nem sequer cear". Disse ainda: Fujamos
de tais escorpiões, pois o profeta Ezequiel designa assim os sedutores: "Pervertedores
estão contigo e habitas com escorpiões" (Ez 2, 6).
Não ousarias, alma cristã, habitar com escorpiões, e certamente te afastarias com
toda a pressa de sua proximidade. Pois assim deves evitar os amigos que dão escândalo
e envenenam a tua alma com maus exemplos e conversas perversas. Quanto mais
estreitamente estão ligados a nós, tanto mais perniciosos se tornam. "Os inimigos do
homem são os seus domésticos" (Mat 10, 36). Na Sagrada Escritura se diz: "Quem se
compadecerá de um encantador mordido pela serpente e de todos os que se aproximam
de animais ferozes? Assim também, quem se compadecerá daquele que se torna
companheiro de um homem iníquo?" (Ecli 12, 13). Se um tal homem, por motivo do
perigo a que se expõe, cai no pecado e se precipita na condenação eterna, ninguém, nem
Deus nem os homens, terá compaixão dele, pois já fôra advertido do perigo.

Fonte: Tratado da Castidade, Santo Afonso Maria de Ligório

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Perdoem-me a demora!

Caríssimos leitores do blog, perdoem-me pelo tempo que fiquei sem postar. A faculdade saiu de greve, e agora estamos no final do período abarrotados de trabalho! Por isso, tenho tido pouco tempo. Mas vou tentar atualizar o blog com mais frequência, mesmo assim.

Conto com vossas orações por minha vida espiritual, por minhas intenções e por meu apostolado!
In Corde Jesu et Mariae.

Viva Cristo Rei!
Salve Maria Imaculada!

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

As dificuldades do homem para se viver a castidade

Por Tiago Martins

Viver a castidade é uma batalha para ambos os sexos, mas homem e mulher têm certos aspectos diferentes quanto a sua sexualidade, fazendo com que cada um tenha algumas dificuldades mais específicas, o presente texto discorre sobre algumas dificuldades típicas do homem e tenta com isso servir como base de alerta para os perigos e também para alavancar o animo nessa jornada.
É sabido que o homem é atraído pelo olhar mais facilmente que a mulher, fazendo que seja um grande motivo de queda, por isso este é o assunto mais falado quando tange as dificuldades do homem que quer viver a castidade, e é sim uma grande dificuldade mesmo, mas neste texto falaremos disso num segundo momento, em primeiro plano colocaremos algo que é pouco falado, mas que muitos – senão todos – já viveram e irão se identificar com as situações, mas no fim veremos que esta situação apesar de dificultosa serve como sinal de que estamos no caminho certo.
A situação é a seguinte, o incentivo nos fortalece e a crítica nos abate se nós não a sabermos contorná-la, o homem que tenta viver a castidade sempre será criticado, - pela frente ou pelas costas – de antiquado, retrógrado e tal, mas ele sofre uma coisa a mais, a título de comparação, quando uma mulher se esforça por viver as virtudes da castidade, do pudor e da modéstia ela é chamada de retrógrada, careta e coisas afins. O homem, quando tenta viver essas virtudes, além de ser chamado das mesmas coisas ainda recebe os adjetivos de fresco, afeminado, gay, etc.
 E também o contrário, quando ele diz que as mulheres deveriam se vestir mais decentemente, quando cobra que elas deveriam se preocupar com os detalhes, -(leia sobre neste link) - para não se vestirem indecentemente é até chamado de tarado, pois a resposta é quase sempre essa: "Não tem nada demais nisso, você é que está com o "olhar sujo" e vendo coisa onde não tem".
Repare como são dois ataques de lados opostos para uma mesma atitude, a atitude se batalhar pela castidade, é complicado lidar com esses ataques, mas daí poderemos tirar uma boa lição que nos dará força. O escritor G.K. Chesterton diz no seu livro “Ortodoxia” que um dos motivos que o fez se converter ao Cristianismo foi perceber que os cristãos eram criticados por grupos diferentes de tomarem atitudes opostas, por um lado eram acusados de pacifistas, por outro acusados de guerreiros sanguinários, sendo que os cristãos sempre tomaram as mesmas atitudes. Chesterton reparou que o problema não estava com o Cristianismo, mas sim com aqueles que opinavam sobre o Cristianismo, eram eles que estavam com a visão torta, pois se os cristãos sempre tomavam as mesmas atitudes, ou seja, sempre foram cristãos, então não podiam ser ao mesmo tempo coisas completamente opostas
Assim também podemos fazer a comparação neste caso sobre a castidade, se um homem está tomando certas atitudes para viver a castidade e é acusado de fresco por uns e de tarado por outros, é sinal de que o problema não está com ele, mas sim com o observador. 

Sempre seremos fracos e por causa do pecado original temos a tendência a buscar o que é mais fácil, mas quando entramos nessa batalha incomodamos os preguiçosos que não querem batalhar, são os que ainda abraçam o mundo e nos acusam de frescos e os que se mascaram de cristãos mas ainda são do mundo, estes são os que dizem que “estamos vendo coisa demais” quando fazemos certos alertas. Mas as críticas não importam, se lutamos por Nosso Senhor e incomodamos é sinal de que estamos no caminho certo.
"As zombarias e chalaças de teus companheiros imundos compreendem-se muito bem. A tua presença é molesta aos que se esponjam no esterquilínio. E como olham esses salafrários com tanta raiva para quem não quer deitar-se junto com eles no muladar! A rã, ainda que esteja sentada num tronco, salta sempre para o charco, pois só ali é que se sente à vontade. Talvez conheças esta velha máxima: Sunt, a quibus vituperari laudari est: há certas censuras que para nós são o maior louvor. E podes crer que, se o asno injuria a rosa, é porque esta não usa ferraduras. "[1]
Passando ao segundo assunto, sobre o olhar, acho que não há palavras melhores que estas para explicar: "Por toda a parte - pessoas na rua, outdoors, espetáculos, jornais, revistas, livros, moda feminina, Internet - há uma agressão contínua à castidade, uma estimulação artificial e massiva da fisiologia, da simples genitalidade, sem o menor contexto de grandeza e amor."[2]
Se disséssemos que cada tentação ao olhar é como se fosse um tiro, diríamos que o dia-a-dia é um verdadeiro fuzilamento. Ingênua ou maliciosamente 99% das mulheres se vestem de forma indecorosa, ingenuidade das que acham que homens vêem beleza na sensualidade e se vestem assim para tentarem parecer belas, mas a sensualidade esconde a beleza, se por um lado o homem é muito atraído pelo olhar por outro ele tem muito aguçada a capacidade de perceber o caráter feminino pelo modo que ela se porta, pelos gestos, modo de falar e principalmente pelo modo de se vestir, todas merecem respeito, mas se queremser respeitadas, demonstrem isso, não se pode querer um cavaleiro ao lado quando não se porta como uma dama. 
Se foram ensinadas erradamente sobre o que é verdadeira beleza é outra história, mas elas estão servindo para a queda na tentação do olhar para muitos homens, e infelizmente muitas vezes em ambientes de igreja.
“A mulher é, de um modo muito particular, a guardiã da pureza, e no mundo no qual vivemos, o mundo das perversões e desastres sexuais, talvez possamos dizer que isso ocorre porque as mulheres falharam em sua missão em defesa da pureza.” [3]
Ainda tem as que se vestem assim por malícia, estas são como demônios que usam de sua beleza para servir a Lúcifer, não é exagero dizer isto, leia o capítulo 25 do Livro de Eclesiástico para confirmar, pois toda obra infernal é assim, usar de um dom de Deus para a maldição de outros, sabendo que aquilo está errado usam o dom da beleza para seduzir para pecados contra a castidade. A Onisciência Divina que tudo sabe julgará se a atitude foi de cada uma foi por ingenuidade ou malicia, o que não tira o grau de culpatibilidade que cada situação tem.
Para completar, creio que estas sejam as duas grandes dificuldades na questão sobre a luta pela castidade, pois todas estão ligadas de um certo modo a estas, primeiro o olhar, pois ele estimula a imaginação, a memória e os outros sentidos do corpo, segundo, as criticas infundadas, que por muitas vezes nos abatem durante a jornada. Mas nos dois casos devemos saber que primeiramente devemos ir a Deus, devemos vigiar, mas antes orar, contar com a intercessão da Virgem Santíssima, Mãe Castíssima, e do Glorioso São José, exemplo de castidade para os homens. Que Eles nos guardem e nos protejam das tentações do olhar e façam que saiamos ainda mais reforçados quando vierem as criticas, pois como foi dito acima, quando lutamos pelo Reino de Deus e somos criticados, é sinal de que estamos no caminho certo.


[1] Dom Tihamér Tóth - Fonte: Aqui
[2] Adaptacão de trechos do livro de Pe. Francisco Faus: Autodomínio. Elogio da temperança  Fonte: Aqui
[3] Alice von Hildebrand – Fonte: Aqui
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