sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Exultai todos os cristãos: é o Natal de Cristo!


Santo Agostinho

Celebremos o Natal de Cristo com afluência e solenidade devida. Rejubilem-se os homens, rejubilem-se as mulheres: nasceu Cristo homem, nasceu de uma mulher e ambos os sexos são honrados. Passe, pois, já para o segundo homem, o que no primeiro foi condenado. Inoculara-nos a mulher a morte; nova mulher os deu à luz a vida. Nasceu em semelhança da carne do pecado pela qual seria purificada a carne do pecado.
Rejubilai-vos, jovens clérigos, que escolhestes em seguir de modo particular a Cristo, que não procurastes matrimônio: não veio a vós pelo matrimônio aquele a quem, segundo, encontrastes.
Exultai, virgens consagradas; para vós, a Virgem deu à luz aquele que desposastes sem alteração da virgindade, e que não podeis perder o vosso amado nem concebendo nem dando à luz. Exultai, justos, é o Natal do justificador. Exultai, enfermos, e doentes: é o natal do que dá saúde. Exultai, cativos, servos, é o Natal do Senhor. Exultai, livres: é o Natal do libertador. Exultai, todos os cristãos, é o Natal de Cristo.
Cristo, nascido de mãe, preparou este dia, desde séculos, e foi quem, nascido do Pai, criou todos os séculos. Em seu Natal divino, não pôde ter mãe alguma, nem no natal humano, pai algum. Enfim, nasceu Cristo tanto de pai quanto de mãe, e sem pai nem mãe: Deus, por parte de Pai; homem, por parte de Mãe; Deus, sem mãe; homem, sem pai. Quem, pois, narrará sua geração? (Is 53,8) ou aquela, sem o tempo, ou esta, sem sêmen; aquela, sem início, esta, sem exemplo; aquela, que nunca deixou de ser; esta, que nem antes nem depois existiu; aquela que não tem fim; esta que tem seu início onde tem seu fim. Justo, pois, que os profetas pressagiassem e que os céus e os anjos anunciassem tão grande nascimento.
Foi posto em manjedoura quem encerrava o mundo; e era criancinha e o Verbo. Aquele que os céus não encerram, o ventre de uma mulher levava. Ela governava nosso Rei; levava ela aquele em quem existimos, aleitava nosso pão. Ó manifesta fraqueza e admirável humildade em que assim se ocultou toda a divindade! O poder governava a Mãe, a quem se achava submetido; e aquele que se alimentava aos peitos dela, a alimentava da verdade.
Complete em nós seus dons aquele que não desprezou nossos primórdios; e faça-nos ele próprio filhos de Deus, que por nós quis tornar-se filho do homem.
Sto Agostinho, Sermão CLXXXIV, 2-4, Ofício Marial.
 
Fonte: GRAA

domingo, 9 de dezembro de 2012

“A oração, como o palpitar do coração”



Se de verdade desejas ser alma penitente
- penitente e alegre -, deves defender, acima de tudo, os teus tempos diários de oração - de oração íntima, generosa, prolongada -, e hás de procurar que esses tempos não sejam quando calhar, mas a hora certa, sempre que te seja possível. Não cedas nestes detalhes. Sê escravo deste culto cotidiano a Deus, e eu te asseguro que te sentirás constantemente alegre. (Sulco, 994)

Como vai a tua vida de oração? Não sentes às vezes, durante o dia, desejos de conversar mais com Ele? Não lhe dizes: mais tarde te contarei isto, mais tarde conversarei sobre isto contigo?

Nos momentos expressamente dedicados a esse colóquio com o Senhor, o coração se expande, a vontade se fortalece, a inteligência - ajudada pela graça - embebe em realidades sobrenaturais as realidades humanas. E, como fruto, surgem sempre propósitos claros, práticos, de melhorar a conduta, de tratar delicadamente, com caridade, todos os homens, de nos empenharmos a fundo - com o empenho dos bons esportistas - nesta luta cristã de amor e de paz.

A oração se torna contínua, como o palpitar do coração, como o pulso. Sem essa presença de Deus, não há vida contemplativa; e, sem vida contemplativa, de pouco vale trabalhar por Cristo, porque, se Deus não edifica a casa, em vão trabalham os que a constroem.

Para se santificar, o simples cristão - que não é um religioso, que não se separa do mundo, porque o mundo é o lugar do seu encontro com Cristo - não precisa de hábito externo nem de sinais distintivos. Seus sinais são internos: a presença de Deus constante e o espírito de mortificação. Na realidade, uma coisa só, porque a mortificação nada mais é que a oração dos sentidos.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Santo Afonso - Meditação: Do pecado mortal

Meditação: Do pecado mortal


Sto Afonso Maria de Ligório
Considera como, sendo tu criado por Deus para amar, com ingratidão infernal te rebelastes contra ele, trataste-o como inimigo, desprezastes a sua graça e a sua amizade. Sabias que lhe davas um grande desgosto com a aquele pecado, e ainda assim o cometestes. Quem peca, que faz? Volta as costas a Deus, perde-lhe o respeito, levanta a mão para dar-lhe uma bofetada, aflige o coração de Deus: Et afflixerunt Spiritum Sanctum eius. Quem peca diz a Deus com suas obras: afasta-te de mim, não quero obedecer, não quero servir-te, não quero reconhecer-te por meu Senhor, não quero ter-te por meu Deus: o meu deus é este prazer, este interesse, esta vingança.
Assim o disssestes no teu coração, quando preferistes a criatura ao teu Deus. Santa Maria Madalena Pazzi não podia compreender como um cristão, a olhos abertos, pudesse cometer um pecado mortal. E tu, que nisto meditas, que dizes…? Quantos pecados, tens tu cometido…? Meu Deus perdoai-me, tende piedade de mim. Ofendi-vos, Bondade Infinita: agora odeio os meus pecados, amo-vos, e arrependo-me de vos ter ofendido tanto, ó meu Deus, que sois digno de infinito amor.
Considera como Deus te dizia, quando pecavas: Filho, eu sou o Deus que te criei do nada e que te resgatei com o meu sangue; proíbo-te de cometeres este pecado sob pena de te separares da minha graça. Porém tu, pecando, dissestes a Deus, Senhor quero satisfazer este gosto e não me importa desagradar-vos e perder a vossa graça. Dixisti: non serviam. Ah, meu Deus, e eu tenho feito isto tantas vezes! Como me tendes suportado? Quem me dera ter antes morrido do que vos ter ofendido! Eu não quero mais desgostar-vos; quero amar-vos, ó Bondade infinita. Concedei-me o dom da perseverança e vosso santo amor.
Considera como Deus, segundo os seus imperscrutáveis decretos, não costuma suportar em todos um igual número de pecados, nas a uns tolera mais, a outros menos, e quando está cheia aquela medida, lança mão de terribilíssimos castigos. E, com efeito, tantas vezes sucede vir a morte tão improvisamente, que o pecador não tem tempo de se preparar! Quantos morrem na própria ocasião de pecado! Quantas vezes uma pessoa se deitou no leito com boa saúde, e de manhã apareceu um frio cadáver! Quantos outros, à força de cometerem pecados sobre pecados, de tal modo se cegaram e endureceram, que, tendo todos os meios para se prepararem para uma boa morte, não querem se aproveitar deles, e morrem impenitentes! Enquanto o pecador vive, pode, se o quer deveras, converter-se com o divino auxílio; porém muitas vezes os pecados o tornam tão obstinados, que não desperta nem sequer na hora da morte. E assim se têm perdido tantos… E estes também esperavam que Deus lhes perdoasse, mas veio a morte, e condenaram-se… Teme que te aconteça o mesmo. Não merece misericórdia aquele que quer servir-se da bondade de Deus para ofendê-lo. Depois de tantos e tão graves pecados que Deus te perdoou, deves ter bem fundado temor de que te não perdoe qualquer outro pecado mortal que cometas.
Dá-lhe graças de te ter esperado até agora, e toma neste ponto uma resolução de antes morrer do que cometer outro pecado. De hoje em diante repetirás sempre: Senhor, bastam as ofensas que tenho cometido até agora. A vida que me resta não quero passá-la a ofender-vos; não, que vós não o mereceis; quero passá-la só a amar-vos e a chorar as ofensas que tenho feito. Arrependo-me de todo o meu coração. Meu Jesus, quero amar-vos, daí-me força; Maria, minha Mãe, ajudai-me.
Fruto:
Medita sobre estas palavras: sempre, nunca, eternidade.
O inferno dura sempre, a eternidade não acaba nunca. Toma um punhado de cinzas ou de areia lá contigo: Quando tiveres passado tantos milhões de séculos quantos são estes pequeninos grãos, não terá passado da eternidade um só momento. Quando puderes, considera, que grande mal seria este ou aquele trabalho, se não acabasse nunca, e não há dúvida que as penas do inferno nunca acabarão. Considera bem isto.
Fonte: Deus Lo Vult

Christus Vincit, Christus Regnat, Christus Imperat!


Viva Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo!


segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O teólogo responde: o que é LUXÚRIA?


O que é a LUXÚRIA?



Royo Marín: No nosso livro no CAPITULO II: Respeitar seu corpo; Ao abordar esta matéria tão áspera e suja, acreditam oportuno recolher a muito prudente advertência com que São Alfonso do Ligório começa a explicação da mesma:
«Agora vamos tratar, com desgosto, daquela matéria cujo só o nome infecciona a mente dos homens... !Oxalá mais breve e mais obscuramente pudesse me explicar! Mas, como esta seja a mais freqüente e mais abundante matéria das confissões e pela que maior número de almas caem no inferno—mais ainda: não vacilo em afirmar que por este só vício ou, ao menos, não sem ele se condenam todos os que se condenam—, daí que seja necessário, para instrução dos que desejam aprender a ciência moral, me explicar com clareza (embora da maneira mais casta possível) e discutir algumas coisas particulares».


Fiéis a esta ordem do grande santo e eminente moralista, vamos estudar esta matéria na forma mais breve e discreta possível, sem renunciar, não obstante, a informar ao leitor secular de tudo que precisa saber para formar sua própria consciência em torno destas questões.

Dividimos a matéria em dois artigos fundamentais: I.°, da luxúria em geral, e 2. °, das espécies de luxúria.

Noção de luxúria em geral: Em sentido amplo ou metafórico, a palavra luxúria designa qualquer luxo, excesso ou exuberância; e assim, por exemplo, de um campo muito fértil se diz que tem uma luxuriante vegetação. Mas no sentido próprio e estrito que aqui nos interessa se define: o apetite ou o uso desordenado do venéreo. Consiste principalmente no uso da faculdade generativa fora do matrimônio ou dentro dele contra suas leis.

A luxúria é um dos sete pecados capitais. Dela derivam outros muitos pecados, principalmente a cegueira da mente, precipitação, desconsideração, inconstância, amor desordenado de si mesmo, ódio a Deus, apego às coisas desta vida e horror à futura. Santo Tomás dedica um muito belo artigo a esta questão.

A divisão fundamental é a que distingue entre luxúria consumada, completa ou perfeita, e a não consumada, incompleta ou imperfeita, conforme chegue ou não até o orgasmo completo, com sua correspondente efusão seminal no varão ou de humores vaginais na mulher.
  • Consumada-a se subdivide em segundo a natureza, se dela pode segui-la geração de um novo ser, e contra a natureza, se de sua não é apta para a geração. refere-se sempre a atos externos e não pode dar-se nos meramente internos.
  • A não consumada pode ser interna e externa, conforme se refira tão somente a atos meramente internos ou a atos externos imperfeitos.
É preciso, acima de tudo, ter sempre à vista dois grandes princípios que informam toda esta questão, e que, bem compreendidos, resolvem sem mais toda a abundante e complicada casuística que pode expor-se em torno à luxúria, ei-los aqui com toda claridade e precisão:

Primeiro princípio:
A luxúria ou deleite venéreo, tanto a consumada ou perfeita como a não consumada ou imperfeita, DIRETAMENTE PROCURADA fora do legítimo matrimônio, é sempre pecado mortal e não admite diminuição de matéria.

Expliquemos, acima de tudo, os termos do princípio:

A LUXÚRIA ou DELEITE VENÉREO, ou seja, a própria e específica da geração humana, diferencia-se:

A. Do deleite puramente sensível, que é o produzido por um ato ou objeto prazeroso em si mesmo, mas não apto em si para excitar o prazer venéreo (v.gr., o aroma de uma rosa, a suavidade do veludo, o aprimoramento de um manjar, etc.).

B. Do deleite sensual, que é o produzido por um ato ou objeto que, embora não é propriamente venéreo em si mesmo, é apto, entretanto, para excitar a concupiscência da carne (v.gr., um beijo, um abraço, etc.). Nestes últimos terá pecado ou não segundo a intenção ou finalidade com que se façam.

TANTO A CONSUMADA ou PERFEITA, ou seja, a que chega a seu término natural pelo orgasmo e efusão seminal no varão ou de humores vaginais na mulher.

COMO A NÃO CONSUMADA ou IMPERFEITA, que se reduz a pensamentos, olhares, toques, etc., com intenção ou finalidade desonesta.

DIRETAMENTE PROCURADA, já seja por ter tentado voluntariamente obter o prazer venéreo completo ou incompleto, ou por ter mimado nele quando se produziu sem buscá-lo.

FORA DO LEGÍTIMO MATRIMÔNIO, ou seja, fora dos atos ordenados de sua à geração humana dentro do legítimo matrimônio.

É SEMPRE PECADO MORTAL, não só por estar grave e expressamente proibida Por Deus, mas sim por ser uma coisa de sua natureza intrinsecamente má.

E NÃO ADMITE DIMINUIÇÃO DE MATÉRIA, ou seja, que, por insignificante que seja o ato desordenado (v.gr., um simples movimento carnal), é sempre pecado mortal quando através dele se busca diretamente o prazer venéreo. Só pode dar o pecado venial por imperfeição do ato humano, ou seja, por falta da suficiente advertência ou de pleno consentimento.

Vejamos agora a prova teológica do princípio:
a) PELA SAGRADA ESCRITURA. São inumeráveis os textos. Eis aqui alguns dos mais conhecidos:

«Não adulterará» (Ex. 20,14).

«Todo aquele que olha a uma mulher desejando-a, já adulterou com ela em seu coração» (MT. 5,28).

«Não lhes enganem: nem os fornicadores, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas... possuirão o reino de Deus» (1 Cor. 6,9-1o).

«Agora bem: as obras da carne são manifestas, ou seja: fornicação, impureza, lascívia... e outras como estas, das quais lhes previno, como antes o fiz, que quem tais coisas fazem não herdarão o reino de Deus» (Gal. 5,19-21).

«Pois têm que saber que nenhum fornicador ou impuro... terá parte na herdade do reino de Cristo e de Deus» (Eph. 5,5).

Como se vê, os textos não podem ser mais claros e categóricos. trata-se da exclusão do reino dos céus, que corresponde ao pecado grave ou mortal; e afeta não só aos atos consumados ou perfeitos (fornicação, adultério), mas sim inclusive aos não consumados ou imperfeitos: basta um simples olhar mal ntencionado, como declara o mesmo Cristo no Evangelho (MT. 5,z8).

b) PELO MAGISTÉRIO DA IGREJA. A Igreja (Aelxandre VII) condenou, ao menos como escandalosa, a seguinte proposição:

«É opinião provável a que diz ser somente pecado venial o beijo que se dá pelo deleite carnal e sensível que do beijo se origina, excluído o perigo de ulterior consentimento e poluição» (D I140).

Agora bem: se um simples beijo dado com intenção carnal (luxúria imperfeita ou não consumada) é pecado grave, serão-o também outros atos de luxúria imperfeita, e a fortiori os de luxúria consumada ou perfeita.

c) PELA RAZÃO TEOLÓGICA. Todos os teólogos católicos estão de acordo em proclamar que a luxúria perfeita ou imperfeita é em si intrinsecamente má e não só porque está proibida Por Deus. A razão fundamental é porque o prazer venéreo o pôs Deus no ato da geração como estímulo para ela, dada sua necessidade imprescindível para a propagação do gênero humano. É, pois, um prazer cuja única e exclusiva razão de ser é o bem da espécie, não do indivíduo particular. Agora bem: utilizar esse agradar em proveito e utilidade própria fora de sua ordenação natural à geração em legítimo matrimônio é subverter a ordem natural das coisas, o qual é sempre intrinsecamente mal, porque se opõe ao que dispôs Deus, não só por uma lei positiva, mas também na natureza mesma das coisas; e como se trata de uma desordem grave, que afeta ao bem de toda a sociedade humana, sua infração voluntária e direta tem que constituir forçosamente um pecado mortal.

A esta razão fundamental podem acrescentar-se outras várias, principalmente para pôr de manifesto a ilegitimidade incluso dos atos imperfeitos. Porque:

1.° Tratando-se de matéria tão escorregadia, é quase impossível realizar o ato imperfeito sem expor-se a grave perigo de chegar até o perfeito; e, como é sabido, é pecado grave expor-se sem causa justificada—não o é nunca o desejo de satisfazer a própria sensualidade—a perigo próximo de pecado grave.

2º. É virtualmente impossível procurar o deleite venéreo incompleto sem que implicitamente se busque e queira o completo; porque, como adverte com fundamento Santo Tomás, a incógnita de uma coisa se ordena sempre a sua consumação»; de onde, que quer a incógnita, pelo mesmo quer implícita e necessariamente a consumação, da mesma maneira que o que quer um bem imperfeito o quer assim que tende de seu ao bem perfeito.

3º. O prazer venéreo que se obtém com a luxúria imperfeita se ordena também, por si, ao bem da espécie, já que é um aspecto parcial do estímulo natural para a geração posto no organismo humano pelo mesmo Autor da natureza. Logo utilizá-lo em proveito próprio fora daquela muito alta finalidade é subverter a ordem natural das coisas, e, pelo mesmo, é em si intrinsecamente mau.

Segundo princípio: A luxúria perfeita ou imperfeita, involuntária em si mesmo, mas INDIRETAMENTE PERMITIDA ao realizar uma ação em si indiferente, pode ser pecado grave, leve ou nenhum pecado, segundo as razões que se tiveram para realizar aquela ação e o comportamento observado ao produzir o prazer venéreo não procurado.

Expliquemos, acima de tudo, os termos do princípio:

A LUXÚRIA PERFEITA ou IMPERFEITA, no sentido já explicado.

INVOLUNTÁRIA em si mesmo, ou seja, não procurada nem tentada direta nem indiretamente em si mesmo.

MAS INDIRETAMENTE PERMITIDA. Não é o mesmo querer uma coisa que permiti-la indiretamente quando há justa causa para isso, de acordo com as leis do voluntário indireto. Tornaremos em seguida sobre isto.

AO REALIZAR UMA AÇÃO DE EM SI BOA ou INDIFERENTE; por exemplo, ao reconhecer a uma doente, ao estudar certas matérias necessárias de medicina ou moral, ao tomar um banho quente, etc. Se a ação excitante fora já de sua má (v.gr., a assistência a um espetáculo imoral), não poderia invocar-se ao voluntário indireto, já que uma de suas regras fundamentais é que se realize e tente exclusivamente uma ação boa, ainda que dela se siga indiretamente um efeito mau.

PODE SER PECADO GRAVE, LEVE ou NENHUM PECADO, na forma que explicaremos em seguida.

SEGUNDO AS RAZÕES QUE SE TIVERAM PARA REALIZAR AQUELA AÇÃO. É o aspecto mais importante do princípio, que explicaremos em seguida detalhadamente.

E O COMPORTAMENTO OBSERVADO AO PRODUZIR O PRAZER VENÉREO NÃO PROCURADO. É outro aspecto fundamental. Se, ao produzir o prazer não procurado, consente-se voluntária e perfeitamente nele, comete-se sempre pecado mortal, embora a causa excitante se tenha posto por graves razões e sem intenção alguma pecaminosa. Se o consentimento for imperfeito, comete-se pecado venial por imperfeição do ato humano. E se se rechaça totalmente o prazer, não se comete pecado algum, contanto que a causa excitante se pôs por razões gravemente proporcionadas segundo as leis do voluntário indireto.

Expliquemos agora com detalhe os dois pontos que ficaram sem explicar, ou seja, os relativos à classe do pecado que se comete segundo as razões que tenha havido para permitir o efeito desordenado que se segue ou pode seguir-se de uma causa em si boa ou indiferente. A questão não é tão fácil como a primeira vista pudesse parecer, e é preciso, para resolvê-la com acerto, estabelecer com toda claridade e precisão umas quantas distinções muito importantes.

1.a. Há ações que de dele (per se) são aptas para excitar a deleite venérea (v.gr., um olhar ou toque francamente obscenos); e outras que em si nada têm que ver com o prazer venéreo, mas poderiam lhe excitar indiretamente (per accidens); por exemplo, comer ou beber em demasia, montar a cavalo, tomar um banho quente, etc.

2.a Entre as primeiras—ou seja, as que operaram per se — terá as que atuam próxima e notavelmente no efeito desordenado, de sorte que sempre ou quase sempre se produz de fato (v.gr., a vista prolongada das partes desonestas de uma pessoa de diferente sexo, uma leitura muito obscena, etc.); e outras que só influem remota e levemente (v.gr., a vista ou conversação com uma pessoa de aparência agradável, estreitá-las mãos ao cumprimentar-se, etc.).

3.a Há ações que excitam próxima e notavelmente a certas pessoas (v.gr., aos jovens, aos de temperamento muito ardente e passional, etc.) que não causam impressão alguma, ou só muito leve, a outras pessoas (v.gr., de temperamento frio ou de idade muito avançada, etc.).

4.a Ao realizar uma ação em si boa ou indiferente que produz ou pode produzir um efeito mau, poderiam existir razões gravemente proporcionadas para realizá-la, ou razões insuficientes, ou nenhuma razão absolutamente.

Tendo em conta estes princípios, eis aqui as conclusões a que se deve chegar:

1.a. É PECADO MORTAL realizar sem grave razão uma ação boa ou indiferente que influa próxima e gravemente no prazer venéreo (já seja por si mesmo ou pela especial psicologia de uma pessoa determinada), embora em algum caso concreto não se seguisse de fato aquele prazer. A razão é porque não é lícito a ninguém, sem grave causa, expor-se a perigo próximo de pecar gravemente (cf. n.256).

Grave causa a tem, v.gr., o médico. que deve reconhecer ao doente, o estudante de medicina que deve aprender anatomia ou obstetria, o sacerdote que tem obrigação de estudar a moral ou de ouvir confissões acidentadas, etc. Nenhum destes pecaria se ao realizar esses estudos ou desempenhar suas funções profissionais experimentassem algum prazer desordenado, com tal, naturalmente, que rechaçassem absolutamente o voluntário consentimento do mesmo.

Tampouco pecaria por este capítulo o que por uma larga experiência soubesse com toda certeza que não lhe excita carnalmente alguma ação de si boa ou indiferente que para outros resulta gravemente provocadora. Mas, como é natural, esta frieza subjetiva não poderia invocar-se para legitimar uma ação de si mesma má (v.gr., a assistência a um espetáculo imoral), porque se pecaria, ao menos, por razão do escândalo e da cooperação ao mal.

2.a É PECADO VENIAL realizar sem justa causa uma ação que influi tão somente per accidens, ou de maneira leve e remota, no prazer venéreo não procurado nem tentado direta nem indiretamente (v.gr., algum excesso na comida ou bebida, a vista e conversação com uma pessoa muito bela, etc.). A razão é porque, embora estas ações influem tão somente e remotamente no prazer venéreo, que, além disso, não se busca nem se tenta, pôr essas causas sem razão alguma e por puro capricho não deixa de envolver certa desordem, ao menos de imprudência e temeridade. Entretanto, como esta desordem não afeta diretamente à luxúria (já que neste caso seria grave, porque, como já havemos dito, não se dá DIMINUIÇÃO de matéria na luxúria diretamente intencionada), constitui tão somente um pecado venial, com tal, naturalmente, de rechaçar o consentimento ao prazer desordenado que possa produzir-se inesperadamente.

3ª. Não É PECADO ALGUM realizar com justa causa (v.gr., por necessidade, educação, utilidade ou conveniência) as ações que acabamos de indicar no parágrafo anterior (ou seja, as que influem só per accidens ou leve e remotamente). E com grave causa (v.gr., o exercício profissional de médicos, enfermeiros, etc.) inclusive as do primeiro parágrafo (ou seja, as que influem próxima e gravemente), com tal de tomar toda espécie de precauções de rechaçar no ato o prazer se se produzir. Entretanto, se a causa fora de tal maneira excitante e a própria debilidade tão grande que se tivesse certeza moral de que se produzirá o prazer e de que não se terá a suficiente energia para rechaçar o consentimento, seria absolutamente ilícito pôr aquela causa, embora para isso tivesse o interessado que abandonar sua própria profissão ou emprego, já que nem sequer para salvar a própria vida ou a do próximo é lícito jamais expor-se a perigo certo ou virtualmente inevitável de pecado.

Com estes dois princípios que acabamos de expor, bem compreendidos e assimilados, pode resolver com acerto toda a muito abundante casuística que expõe a luxúria em todas suas manifestações completas ou incompletas. Tudo gira em torno destes dois pontos fundamentais:
I.°, a luxúria diretamente tentada fora do legítimo matrimônio é sempre pecado mortal, sem que admita DIMINUIÇÃO de matéria (um simples movimento carnal, um simples olhar ao corpo de uma pessoa, basta para pecar mortalmente se com isso se tenta diretamente e experimentar um prazer ou deleite venéreo);

e 2.°, a luxúria involuntária, mas prevista, será pecado grave, leve ou nenhum pecado, conforme tenha havido ou não raciocínio proporcionadas para permiti-la e se rechaçou ou não o consentimento ao prazer desordenado no momento de produzir-se.
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domingo, 18 de novembro de 2012

Oração a São Luiz Gonzaga para presevar a pureza

Oração
Ó Luiz Santo, adornado de angélicos costumes, eu, vosso indigníssimo devoto, vos recomendo singularmente a castidade da minha alma e do meu corpo. Rogo-vos por vossa angélica pureza, que intercedais por mim ante ao Cordeiro Imaculado, Cristo Jesus e sua santíssima Mãe, a Virgens das virgens, e me preserveis de todo o pecado. Não permitais que eu seja manchado com a mínima nódoa de impureza; mas quando me virdes em tentação ou perigo de pecar, afastai do meu coração todos os pensamentos e afetos impuros e, despertando em mim a lembrança da eternidade e de Jesus crucificado, imprime profundamente no meu coração o sentimento do santo temor de Deus e inflamai-me no amor divino, para que, imitando-vos cá na terra, mereça gozar a Deus convosco lá no céu. Amém.
v: Ora pro nobis, Sancte Aloísi.
r: Ut digni efficiamur promissiónibus Christi.

Oremus

Cæléstium donórum distributor, Deus, qui in angélico júvene Aloísio miram vitæ innocéntiam pari cum pæniténtia sociásti: ejus méritis et précibus concéde; ut innocéntem nom secúti, pæniténtem imitemur. Per Christum Dóminum nostrum.
r:Amém.
v: Rogai por nós S. Luiz.
r: Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.
 Ó Deus, distribuidor dos dons celestes que no angélico jovem Luiz reunistes admirável inocência de vida com igual penitência, pelos seus merecimentos e orações concedei-nos, que, pois na inocência o não seguimos, o imitemos na penitência. Por Cristo, Senhor nosso.
r: Amém.
Fonte: Montfort

O rapaz que foi estrangulado pelo demônio

Demônio e Anjo da Guarda no Juízo Final, Notre Dame


Dois estudantes, dando-se mais à vadiação do que aos estudos, resolveram ir passar a noite numa casa suspeita. Por um resto de pudor, porém, um deles desistiu e ficou na pensão, indo só o outro.

Na hora de deitar-se, segundo o seu hábito, o primeiro rezou ao pé da cama três Ave-Marias. Era um costume de família, que manteve no colégio onde fez seus preparatórios.

Logo que se deitou, ouviu umas pancadas na porta, e o seu infeliz companheiro apareceu no quarto. Que mudança! Que rosto lívido!
— Que lhe aconteceu? — perguntou.
— Ah! Meu amigo, que infelicidade a minha! Ao sair de casa, fui agarrado por um demônio e estrangulado no meio da rua. Meu corpo está na calçada, e minha alma no inferno. Esperava-te a mesma sorte, mas Nossa Senhora te poupou esta infelicidade, pelas Ave-Marias que rezaste. Feliz serás, se aproveitares este aviso que a Mãe de Deus te dá por minha boca.

Dito isto, a visão desapareceu. O moço desatou em prantos e agradeceu à sua Benfeitora por tamanho favor. Pediu-lhe força e coragem para mudar de vida.

De manhã cedo, encaminhou os passos para o convento dos Franciscanos, pedindo ser admitido sem demora na Ordem. Conhecendo-lhe a vida desregrada, o Superior não acedeu ao seu desejo. Porém, depois que o moço narrou o acontecido, dois religiosos foram mandados para averiguar a verdade.

Com efeito, acharam o corpo do infeliz moço, com o rosto enegrecido como carvão. O postulante foi então admitido ao noviciado. Tornou-se religioso exemplar e foi enviado às Índias para pregar o Evangelho.

Terminou a vida derramando seu sangue no martírio.


(Fonte: S. Afonso de Ligório, apud "Maria ensinada à mocidade" - Livraria Francisco Alves, Rio, 1915)

Aula do Padre Paulo Ricardo sobre a Masculinidade


Magistral aula do Padre Paulo Ricardo sobre esse tema tão importante, esquecido e boicotado: a masculinidade!

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Santo Estanislau Kostka (13/11)


Santo Estanislau Kostka
Apelidado de "anjo" na infância, Estanislau Kostka atingiu a juventude guardando todas as virtudes, como um anjo realmente. Mas, não faltaram oportunidades para se entregar aos prazeres mundanos, pois pertencia a uma família polonesa nobre e poderosa.

Nascido em 28 de outubro 1550, até a idade de treze anos Estanislau viveu na casa dos pais. Aos quatorze eles o enviaram para estudar no seminário dos padres jesuítas em Viena, junto com o irmão mais velho e o tutor. Mas o seminário logo foi fechado pelo imperador Maximiliano e toda a comunidade estudantil acabou abrigada no castelo de um príncipe protestante. Aquele ambiente cheio de festas e jogos de prazeres, em nada combinava com Estanislau, que buscava uma vida de virtudes e oração, dentro da doutrina cristã.

A situação para ele era das mais inadequadas, pois o irmão e o tutor passaram a requisitar sua participação nesses jogos. Não bastasse isso, o tal príncipe protestante queria impedir os católicos de irem à missa receber a comunhão. Depois também era atormentado pelos colegas, que zombavam muito de sua preferência pela vida religiosa.

Mas a luta contra o ambiente hostil e a vida de privações a que se obrigava acabaram por minar a saúde do rapaz. Frágil, ficou doente a ponto de quase perder a vida, mas o salvaram a fé profunda e a confiança em Maria Santíssima, de quem era devoto. Durante um sonho, um anjo apareceu para lhe dar a Eucaristia, e a Virgem Mãe também, curando-o ao colocar-lhe o Menino Jesus nos braços. Maria, em sua aparição, também o convidou a ingressar na Companhia de Jesus.

Estanislau, que já pensava em ser um padre jesuíta, contou tudo à família que fora à Viena verificar como os filhos estavam vivendo e estudando. Aproveitou para dizer que queria mesmo ser um sacerdote. A oposição dos seus pais foi total. Tentou insistir mais foi inútil. Então, fugiu sozinho, a pé e vestido de mendigo para despistar se o perseguissem.

De Viena, na Áustria foi para Treves, na Alemanha, percorrendo setecentos quilômetros até chegar a uma casa provincial dos jesuítas. O provincial na época era Pedro Canísio que o recebeu com amabilidade, mas teve de enfrentar a reação do pai do jovem que ameaçou fazer expulsar todos os jesuítas da Polônia, caso o filho não voltasse ao convivo da família. Mas Estanislau se manteve irredutível.

Aos dezessete anos Estanislau foi enviado para Roma, com uma carta de recomendação ao superior geral da Ordem, São Francisco de Borja, que com carinho o encaminhou para complementar o noviciado e os estudos de teologia no Colégio Romano. Foram apenas nove meses entre os jesuítas, mas plenos de trabalho, estudo, dedicação e disciplina, exemplares. Até ser acometido por uma febre misteriosa e, no dia 15 de agosto de 1568, festa da Assunção de Nossa Senhora, ele partiu docemente ao encontro de Deus.

O seu túmulo se tornou local de muitas graças e rota de peregrinação. O Papa Bento XIII o canonizou em 13 de novembro de 1726, e designou essa data para celebrar a festa em memória de Santo Estanislau Kostka, padroeiro dos noviços.

Fonte: Catolicanet

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Tratado da Castidade - Parte VI (Final) - Santo Afonso Maria de Ligório


§ VI. DO VOTO DE CASTIDADE




I. Uma alma que cansagra a Deus a sua virgindade torna-se uma esposa de Jesus
Cristo, e por isso o Apóstolo não hesita em escrever (II Cor 11, 2): "Eu vos desposei
com um Esposo, com Cristo, para vos apresentar a Ele como virgem pura". Jesus Cristo
mesmo se dá como Esposo das virgens, na parábola das dez virgens: "Saíram ao
encontro do Esposo... e entraram com Ele para as núpcias" (Mat 25, 10). O Divino
Salvador deixa-se chamar pelos outros fiéis de Mestre, Pastor e Pai; quer, porém, ser
chamado de Esposo pelas almas virgens. Esses desponsais com o Senhor, se realizam
por meio da fé: "Eu me desposarei contigo pela fé" (Os 2, 20). A virtude da virgindade é
um fruto especialíssimo dos merecimentos de Jesus Cristo, e por isso se diz, no
Apocalipse (14, 4), que as virgens formam o cortejo do Cordeiro. A Santíssima Virgem
revelou a uma alma devota que uma esposa de Jesus Cristo deve, acima de todas as
virtudes, amar a pureza, porque ela a torna de modo especial semelhante a seu Divino
Esposo. São Bernardo diz que todas as almas justas são esposas do Senhor, "mas de um
modo particular vale isso das almas virgens", como nota Santo Antônio de Pádua. Por
isso São Fulgêncio chama a Jesus Cristo o Esposo de todas as virgens consagradas a
Deus.

Uma moça que quer permanecer no mundo e casar-se, se é prudente, se informa
com todo o cuidado a respeito dos que solicitam a sua mão, para conhecer o mais digno
e o mais capaz de torná-la feliz aqui na terra. A pessoa religiosa, por sua vez, desposase,
pelos votos, com Nosso Senhor Jesus Cristo. Procuremos a esposa dos Cânticos, que
sabe perfeitamente avaliar as qualidades desse Esposo Divino, e perguntemos-lhe:
'Quem é o vosso amado, ó santa esposa? Quem é aquele que possui todo o vosso
coração e vos tornou a mais feliz das mulheres?' Ela responde: 'Meu Amado é branco e
vermelho: é branco por Sua pureza, e vermelho pela chama do amor em que se abrasa
por Sua esposa; em uma palavra, Ele é tão belo, tão perfeito em todas as virtudes, que
não há nem pode haver um outro esposo mais nobre ou mais amoroso que Ele'. "Nem
quem O iguale em Sua grandeza, nem em Sua beleza, nem em Sua generosidade", diz
Santo Euquério. Por isso escreve Santo Inácio de Antioquia: "Aquelas bem-aventuradas
virgens, que se consagraram a Jesus Cristo, podem estar certas de que não encontrarão,
nem no céu nem na terra, um esposo tão belo, tão nobre, tão rico, tão amável como
Aquele que lhes foi dado, Jesus Cristo".


Santa Clara de Montefalco dizia que prezava tanto sua virgindade, que antes
quereria sofrer durante toda a sua vida as penas do inferno, do que perder esse valioso
tesouro. Com toda a razão, pois, muitas virgens virtuosas renunciaram a casamentos
principescos para permanecerem esposas de Jesus Cristo. Santa Joana, infanta de
Portugal, renunciou à mão de Luís XI, rei da França; a Beata Inês de Praga, à do
imperador Frederico II; Isabel, filha do rei da Hungria e herdeira do reino, à de
Henrique, arquiduque da Áustria, e muitas outras procederam do mesmo modo.
Uma virgem que se consagra ao Senhor, diz Teodoreto, está livre de todo o
cuidado inútil. Não tem outra coisa a fazer senão entreter-se contínua e familiarmente
com Deus. Isso indica o Apóstolo quando diz que a virgem "é santa no corpo e na alma"
(I Cor 7, 34); santa no corpo pela castidade, santa no espírito por seu comércio íntimo
com Deus. "Se ela não tivesse outra recompensa a esperar, diz Santo Anselmo, só por
estar livre dos cuidados seculares e não ter outra obrigação, já deveria ser tida por
sumamente feliz". Do que se vê que as virgens não só receberão uma imensa glória no
Céu, mas já serão recompensadas antecipadamente aqui na terra, com uma paz
inalterável.

As virgens que se consagram ao amor de Jesus Cristo, ofertando-Lhe o lírio da
pureza do coração, tornam-se tão agradáveis a Deus como os Santos Anjos, - certamente
um efeito sublime da castidade virginal. Todas as virgens que buscam a perfeição são
esposas queridas de Jesus Cristo, porque Lhe consagraram seu corpo e sua alma, e nada
mais buscam nesta vida que agradar-Lhe. São João foi o discípulo amado de Jesus,
porque guardou a virgindade. Justamente por esse motivo amava-o Jesus mais que aos
outros discípulos, como a Igreja o insinua quando diz: "Foi escolhido como virgem pelo
Senhor, e mais amado que todos os outros".


As virgens são chamadas, na Sagrada Escritura, as primícias de Deus: "São
virgens; esses seguem o Cordeiro aonde quer que Ele vá. Esses foram comprados dentre
os homens, para serem as primícias para Deus e para o Cordeiro" (Apoc 14, 4). Mas por
que são chamados primícias de Deus? O Cardeal Hugo responde: "Como os primeiros
frutos são mais agradáveis que os outros, assim também as virgens consagradas a Deus
agradam mais ao Coração deste e constituem o objeto de seu especial amor".
Diz-se ainda, na Sagrada Escritura, que o Esposo Divino "se apascenta entre os
lírios" (Cânt 2, 16). Esses lírios representam as virgens que conservam sua pureza por
amor de Deus. Um expositor nota o seguinte nessa passagem dos Cânticos: "Enquanto o
demônio procura a imundície da impureza, Jesus Cristo se apascenta [isto é, descansa,]
entre os lírios da castidade".

O que, porém, deve aumentar consideravelmente a nossos olhos o valor da
virgindade, é o louvor extraordinário que lhe tece o Espírito Santo, dizendo: "Tudo o
que se aprecia não é comparável a uma alma continente" (Ecli 26, 20). Isso mesmo nos
deu a entender a Santíssima Virgem, quando disse ao Arcanjo que Lhe anunciava a
divina maternidade: "Como se dará isso, se não conheço varão?" (Lc 1, 14). Maria, com
essas palavras, mostrou que preferiria renunciar à dignidade de Mãe de Deus, a perder o
tesouro de Sua virgindade.


Segundo São Cipriano, a pureza virginal é a rainha de todas as virtudes e o
complemento de todos os bens. Santo Efrém escreve que as virgens que guardam a sua
pureza por amor de Jesus Cristo, serão favorecidas por Ele em todos os pontos. São
Bernardo acrescenta que a virgindade habilita a alma, de um modo todo especial, a ver o
Divino Esposo nesta vida pela fé, e na outra pela luz da glória.
Imensa é a glória que Jesus Cristo prepara no Céu às Suas esposas que na terra
Lhe consagraram sua virgindade. Nosso Senhor mostrou um dia à Sua grande serva
Lucrécia Orsini os sublimes tronos que ocuparão aqueles que serviram a Jesus Cristo
em pureza virginal. Ao que exclamou ela: "Oh! Quão agradáveis não são a Jesus e a
Maria as virgens!" Os teólogos afirmam que as virgens receberão no Céu uma auréola
especial, sendo ornadas com uma luzente coroa de honra e glória, pois se diz na Sagrada
Escritura, a respeito das virgens: "Ninguém podia cantar esse cântico, senão aqueles
cento e quarenta e quatro mil que foram comprados na terra". Explicando essa
passagem, diz Santo Agostinho que a glória que Jesus Cristo concede às Virgens não
confere aos outros Santos.


II. Grande é a satisfação de Jesus Cristo quando alguém se associa ao número de
Suas esposas. Isso declaram aquelas palavras dos Cânticos: "Vinde, ó filhas de Sião, e
vede o rei Salomão com o diadema com o qual o coroou sua mãe no dia de suas
núpcias, no dia da alegria de seu coração" (Cânt 3, 11). Isso, porém, vale só daquelas
almas que se consagraram sem restrição ao amor do Esposo Divino. Desposando Jesus
uma tal alma, quer que todo o Céu se alegre com Ele e entoe hinos de regozijo:
"Alegremo-nos e exultemos e demos-Lhe glória, porque são chegadas as bodas do
Cordeiro e Sua esposa está ornada" (Apoc 19, 7). Os ornatos com que Jesus quer ver
ataviadas Suas esposas são as virtudes, particularmente o amor e a pureza, que são
apresentadas nos Cânticos como coroas de prata e de ouro: "Nós te faremos umas
cadeias de ouro listradas de prata" (Cant 1, 10). São estas as vestes pomposas e as jóias
com que o Senhor atavia Suas esposas, e das quais fala Santa Inês: "Ele circundou
minha direita e meu pescoço com um colar de pedras preciosas, revestiu-me com um
hábito bordado a ouro e ornado com artísticos relevos e deslumbrantes adornos".
Os seculares buscam coisas terrenas, mas as esposas de Jesus Cristo nada mais
querem senão Deus; por isso delas se pode afirmar ao pé da letra: "Esta é a geração dos
que buscam a Deus" (Sl 23, 6). "Ó esposas do Redentor, exclama São Tomás de
Villanova, não deveis buscar qual de vós sobrepuja as outras por seu nascimento, seus
talentos ou fortuna; examinai, antes, quem é mais agradável ao Esposo Divino, quem
vive unida mais intimamente a Ele, quem é mais humilde, pobre e obediente". Ouçamos
também o que diz o Espírito Santo: "Filho, quando entrares ao serviço de Deus...
prepara tua alma para a tentação" (Ecli 2, 1), para sofreres com humildade e paciência,
pois "o ouro e a prata se provam no fogo, e os homens que Deus quer receber, na
fornalha da humilhação" (Id. v. 5). "Ninguém pode servir a dois senhores" (Mat 6, 24),
a Deus e ao mundo. quem, portanto, quiser consagrar-se a Deus deve renunciar ao
mundo, e quem quiser tornar-se esposa de Jesus Cristo deverá exclamar
incessantemente: "Deus só é todo o meu tesouro e meu único bem".
São José de Calazans diz que, se não se der a Jesus todo o coração, não se Lhe
deu nada. Isso é inteiramente verdade, porque nosso coração já é em si muito pequeno
para amar dignamente a um Deus que merece um amor infinito; e esse pequeno coração
deveria ainda ser dividido entre Deus e as criaturas?

Como poderás, pois, tu, alma cristã, te incomodares com o mundo, depois de te
consagrares a Deus? Esquece de tudo o mais e procura guardar o teu coração inteiro
para teu Divino Esposo, que escolheste para Lhe dedicares todo o teu amor. Eu disse:
teu coração inteiro, porque Jesus Cristo quer que Sua esposa seja "um jardim fechado e
uma fonte selada" (Cânt 4, 12); um jardim fechado, pois não deve receber a ninguém
mais senão a seu Divino Esposo; uma fonte selada, porque esse Divino Esposo é zeloso
e não permite que encontre entrada no coração de sua esposa outro amor que o amor por
Ele. Por isso diz-Lhe: "Quero que me coloques como um selo sobre teu coração e sobre
teu braço" (Cant 8, 6), para que a ninguém mais ames senão a Mim, e para que todos os
teus atos sejam feitos com a única intenção de Me agradares. O Amado é colocado
como um selo sobre o coração e o braço, diz São Gregório, quando a alma mostra por
sua vontade (isto é, o coração) e por suas ações (isto é, o braço), quanto ama a seu
celeste Esposo.



Quando o amor divino reina numa alma, expulsa toda a afeição que não se refere
a Deus, pois "o amor é forte como a morte" (Id. it.). Como nada há que possa resistir à
veemência da morte quando é chegada a sua hora, assim também não há nenhum
impedimento e nenhuma dificuldade que não seja superada pelo amor divino, quando
ele se apodera de um coração. "Se um homem der todas as riquezas de sua casa, ele as
desprezará como se nada tivesse dado" (Id., v. 7). Um coração que ama a Deus,
despreza tudo o que lhe oferece e pode oferecer o mundo; numa palavra, ele despreza
tudo o que não é Deus. São Bernardo diz que Deus, como nosso Senhor, exige de nós
temor; como Pai, respeito; como Esposo, porém, unicamente amor.

A Venerável Francisca Farnese não conhecia meio mais eficaz para estimular a
si e às suas companheiras a tender à perfeição, do que a recordação de que eram esposas
de Jesus Cristo. Está fora de dúvida, dizia ela, que cada uma de vós foi escolhida por
Deus para se tornar santa, pois que vos concedeu agrande honra de vos fazer Suas
esposas. E, de fato, é essa uma graça inapreciável, que exige uma fiel cooperação. Santo
Agostinho escreveu a uma virgem consagrada a Deus: "Tens um Esposo que é mais
belo que tudo o que existe no Céu e na terra, e que te deu um penhor seguro de Seu
amor escolhendo-te para Sua esposa. Podesc oncluir disso quão obrigada estás a pagar o
Seu amor". Ó esposa de Jesus Cristo, não te ocupes mais contigo e com o mundo; não
pertences mais ao mundo, nem a ti mesma, mas a Deus; e cuida unicamente em viver
para esse Esposo que escolheste.

Escolheste a Deus por Esposo, mas primeiramente te escolheu o Senhor para Sua
esposa. Quantas almas não deixou Ele no mundo, não lhes concedendo os favores que a
ti fez? O Salvador preferiu-te a todas essas almas, não por seres mais digna, mas por te
amar mais que às outras. Por isso te diz o Senhor, pela boca do Profeta (Ez 16, 8), que o
tempo que te resta de vida é "um tempo para amar". Deves ligar-te a Jesus, teu Esposo,
com toda a tua confiança e, com todo o teu amor, prender-te a Ele, que te amou desde a
eternidade, que te criou por Sua bondade, e te chamou a Seu santo amor por meio de
tantas graças especiais. Por isso, se o mundo solicitar o teu amor, ó esposa de Jesus
Cristo, diz-lhe com Santa Inês: "Aparta-te de mim, pábulo da morte. Desejas o meu
amor, mas eu não posso amar a mais ninguém do que a meu Deus, que me amou
primeiro". "Porque és a esposa de um Deus, diz São Jerônimo, reveste-te de um santo
orgulho". Os seculares se orgulham de sua união com pessoas nobres e ricas; tu, porém,
podes te gloriar de uma sorte muito melhor, porque te tornaste esposa de um Rei
Celeste. Dize, pois, cheia de alegria e santo orgulho: "Achei a quem meu coração ama;
prende-lo-ei com meu amor e não O largarei mais" (Cant 3, 4).

De fato, é uma imensa felicidade para uma virgem quando ela pode gloriar-se e
dizer: "Aquele a quem os Anjos do Céu desejam servir, é meu Esposo. Meu Criador
escolheu-me para Sua esposa, e, como Ele é o Rei e o Senhor do mundo, cingiu-me
igualmente com uma coroa de rainha".
Deves saber, entretanto, ó esposa do Senhor que lês esses louvores, que não
possuis irrevogavelmente essa coroa enquanto permaneceres aqui na terra; poderás
perdê-la novamente por tua culpa; para que ninguém ta roube, segura-a fortemente
(Apoc 3, 11). Renuncia às criaturas, une-te cada vez mais intimamente a Jesus Cristo
pel oamor e pela oração, e suplica-Lhe sem cessar que não permita que te tornes outra
vez infiel. Deves dizer-Lhe: Ó Jesus, meu divino Esposo, não permitais que me separe
de Vós.

E quando as criaturas quiserem apoderar-se de teu e daí expulsar Jesus Cristo,
dize desassombradamente com o Apóstolo, confiada na assistência divina: "Quem me
separará do amor de Jesus Cristo? Nem a morte, nem a vida, nem criatura alguma será
capaz de nos separar do amor de Deus" (Rom 8, 35).



[Nota: Quando o Santo Doutor fala da santa virgindade, refere-se às almas, tanto
das mulheres quanto dos homens]

(SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO, Escola da Perfeição Cristã,
compilação de textos do Santo Doutor pelo padre Saint-Omer, CSSR, tradução do padre
José Lopes, CSSR, IV Edição, Editora Vozes, Petrópolis: 1955, páginas 186-204 e 338-
343).

terça-feira, 6 de novembro de 2012

“Jesus ficou na Eucaristia por amor”


A freqüência com que visitamos o Senhor está em função de dois fatores: fé e coração; ver a verdade e amá-la. (Sulco, 818)
O coração! De vez em quando, sem o poderes evitar, projeta-se uma sombra de luz humana, uma recordação torpe, triste, “provinciana”...

- Corre logo ao Sacrário, física ou espiritualmente: e tornarás à luz, à alegria, à Vida. (Sulco, 817)


Tens de assomar muitas vezes a cabeça ao oratório, para dizer a Jesus: - Abandono-me nos teus braços.

- Deixa a seus pés o que tens: as tuas misérias!

- Deste modo, apesar da turbamulta de coisas que arrastas atrás de ti, nunca perderás a paz. (Forja, 306)

Jesus ficou na Eucaristia por amor..., por ti.

- Ficou, sabendo como é que os homens O receberiam..., e como é que tu O recebes.

- Ficou, para que O comas, para que O visites e Lhe contes as tuas coisas e, chegando ao trato íntimo na oração junto do Sacrário e na recepção do Sacramento, te enamores mais de dia para dia, e faças que outras almas - muitas! - sigam o mesmo caminho. (Forja, 887)
 
Fonte: Mensagens de São Josemaría Escrivá

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Porque é que "não há Deus"? - A descrença para Tihamer Toth


Foi a corrupção do coração que levou teu camarada à incredulidade. Essa contradição contínua que ele acha entre a fé e sua própria vida, o remorso perpétuo que ele sente na alma, a angustia incessante a este pensamento: Se há um Deus, se ele me pedir um dia conta dos meus atos, dos meus pensamentos, ai de mim! Como seria bom que não houvesse Deus... Talvez não haja... Sim, não há, não... não há Deus.

Posso dizer com toda certeza que, se as leis morais graves e áusteras emanassem não da religião, porém da álgebra ou da física, ninguém no mundo seria descrente, antes, pelo contrário, haveria alguns para duvidar dos princípios da álgebra e da física, em nome do "progresso"
Que a increduliade seja a resultante da decadência moral, é uma averiguação provada pelo fato de a descrença andar de parelha com os anos da juventude, com a idade das paixões, e desaparecer com estas últimas. A criança não é descrente: sente-se mesmo tão feliz com Deus! O velho quase não é descrente, a religião e a fé são-lhe a última esperança. Mas o entre-tempo é a época procelosa das paixões, à qual convém bem esta afirmação de Pascal: "O coração tem razões que a razão não conhece". Sim, o coração corrompido pode ser incrédulo, mas a razão esclarecida nunca o é. Ninguém fica ateu, mas só aquele que tem razão para que não haja Deus.

O jovem que na idade do seu desenvolvimento físico sabe conservar a pureza de sua alma, permanece isento de dúvidas contra a fé. Mas, em compensação, confesso que aquele que leva uma vida impura, não tem mais gosto pela oração, acha incômodas as práticas religiosas, depois a religião no seu conjunto, e finalmente perde a fé. Infalivelmente tem que perder a fé. A ruína moral que se produz dentro dele, a sua vida depravada, ele se esforça por justificá-las com o auxílio de máximas filosóficas, de livros, de sofismas, de teorias científicas; busca nos livros, como consequência, uma justificação teórica de seu ateísmo, ateísmo que, em face do Deus santo que pede a cada um de nós a santidade, ele já pratica há muito tempo por uma vida de pecado.

A vida pura não é só uma consequência, mas também uma condição da fé. Para que a razão não se torne pagã, é necessário que o coração já o não seja antes. "Conservai vossa alma em estado de desejar a existência de Deus, e não lhe duvidareis da existência". (Rousseau)

Já ouviste o que dizem do avestruz? Quando ele é perseguido, esconde a cabeça na areia, e, como não vê seu inimigo, crê que este não existe. Não sei se esses jovens "descrentes" não escondem a cabeça diante de Deus: naõ vêem a Deus, não querem vê-Lo; mas isto não quer dizer que de fato não há Deus. Quantos jovens não se compelem realente à descrença, unicamente para não serem obrigados a mudar de vida? Porque é que o pecador não quer pensar em Deus? Porque sente que contraiu grandes dívidas para com Deus; cada qual evita aniosamente a casa do seu credor.

Contrariamente, o jovem de alma pura como um lírio manifesta uma fé ardente, porque repousa sobre o peito do Senhor Jesus. Um grande conhecedor da humanidade, La Bruyère, escreveu (Caractéres, 16): "Eu quisera ver um homem sóbrio, moderado, casto, equtativo, pronunciar que não há Deus; falaria pelo menos sem interesse: mas esse homem não se acha".

Para quantos jovens se tem renovado literalmente aquilo que o célebre escritor François Coppé escreveu, após a sua conversão, no prefácio do seu livro "Dor bendita": Fui educado cristãmente e, depois a minha primeira comunhão, cumpri os meus deveres religiosos durante vários anos com ingênuo fervor. Foram, digo-o francamente, a crise da adolescência e a vergonha de certas confissões que me fizeram renunciar aos meus hábitos de piedade. Muitos homens que estão neste caso conviriam, se fossem sinceros, em que o que o afastou ppriemeiro da religião foi a regra severa que ela impõe a todos, do ponto de vista dos sentidos, e que só mais tarde foi que eles pediram à razão e à ciência argumentos metafísicos que lhes permitissem não mais se incomodarem".

"Bem-aventurados os que têm o coração puro, porque verão a Deus", disse Nosso Senhor. E os que têm o coração corrompido? Só verão do mundo os gozos sensuais, a podridão, as espurícias, as libertinagens, as batalhas.

"Senhores, dizia o ilustre escritor Chateaubriand numa sociedade cultivada: ponde a mão no coração e dizei-me por vossa honra: não teríeis a coragem de crer se tivésseis a coragem de viver castos?"
Cada vez que ouço falar de um jovem descrente, do seu "juízo esclarecido", sou obrigado a me lembrar desta palavra de Santo Agostinho: Nemo incredulus, nisi impurus. Ao moço descrente posso dar, com toda tranquilidade este conselho de Pascal: Se quiserdes ficar convencidos das verdades eternas, não multipliqueis as provas, mas extirpai as vossas paixões". Rompei com o pecado - e amanhã tereis uma fé robusta.

Tithamer Toth, A Casta Adolescência
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